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Foto do escritorGabriel Noboru Ishida

Estilo Decor- Country-Cottage

Atualizado: 17 de jan. de 2023

Significa riqueza mesmo?


O estilo é muito difundido globalmente, em especial em lugares que já foram colônia inglesa ou que consumiram cinema estadunidense. E não é diferente no Brasil, que teve forte influência na era industrial, moderna e pós moderna.

Entretanto, por motivos culturais locais brasileiros, temos a presença distinta de duas ou três raízes que resgatam estes estilos para o contexto contemporâneo, como aconteceu nos últimos séculos brasileiros, e que foram integradas ao contexto eclético nacional.

A primeira, é a idéia de que remetem a nobreza européia. E isso se deu de duas formas, sendo a mais forte a presença da cultura francesa no século passado, que marcou fortemente a cultura brasileira com ícones, hábitos, vocabulário e padrões estéticos: a casa provençal (província, mesma raíz léxica), talvez porque a família real francesa visitou a cidade de Provance, local de veraneio muito agradável e compatível com o Brasil, que possuia este estilo de mobiliário.

A segunda, teria uma raíz britânica, que é o próprio country cottage. Este estilo, composto por diversas influências, era genericamente chamado de britânico, e englobava os estilos desenvolvidos durante o reinado da Casa Hanover. Incluiam o Palladiana, neo-Gótica e o Chinoiserie. Esse modelo aparece em diversos locais onde o estilo clássico, com padrões repetitivos e ornamentos típicos, foram implantados pela cultura inglesa colonialista. As casas dos senhores ingleses certamente trariam opulências britânicas para os longínquos pontos de domínio, inclusive, Brasil.

A terceira, que talvez seja a mídia onde se diluem as duas anteriores, é o sangue cultural clássico renascentista, em voga desde o Renascimento e que traz com ele toda a idéia de cultura e riqueza espiritual e material. A arquitetura renascentista - que era absolutamente voltada ao neo classico da europa continental - é praticamente o mesmo que que greco-romano. Especialmente do ponto de vista estrutural, arganiano. Nessa trajetória, a arquitetura Georgiana foi um entreposto cultural, para as demais, após o renascimento.

Dessa forma, ao longo dos anos, construiu-se a idéia de que estes estilos estariam relacionados (e não sem razão) a riqueza e opulência material e cultural. E até hoje, mantêm este significado, ainda que sob o risco de serem clichê, se mal utilizados.

E do sonho do conforto, da segurança e da higiene, da leveza contra os fardos da vida e a proteção do lar, chegamos à quarta expressão do cottage, que é kitsch do brega: o artesanato fofo. Mas calma, não sejamos tão duros: existiu uma linha específica com essas mesmas idéias, ainda na origem da coisa toda, mas estadunidense.

Para além da corrente do artesanato, que associa a fofura e a leveza a coisas infantis, sem saber mas imprimindo um contexto de colonialismo americano: era o "Cottagecore" ou "farmcore" ou "countrycore".

E por serem mais humanizadas e com detalhes "não industrais", com rendas e outros itens como madeira, toalhas, cores suaves, evoca assim uma textura e temperatura condizentes com um ambiente infantil, de verão e aconchegante. Os filhotes de mamíferos em geral, na natureza, vêm na primavera e no verão, não é? Luminoso, quente, confortável.


Porém, antes de associarmos cottage a coisas fofas e aconchegantes simplesmente, vamos verificar a origem do termo, pois o estilo pode também ser bruto. E nesse sentido, tão bruto quanto a vida de peão.

Country significa lado do interior, caipira, rural. E Cottage significa rural, pequeno, rústico. Pequeno não no sentido do amigurumi (que cabe mas não tem nada a ver com isso), mas no sentido da dificuldade de uma vida nas casas pequenas com um estilo de vida Jeca Tatu greengold: super restrito mas caprichoso - graças é claro, às mulheres, não aos cowboys.


É o caipira americano e inglês


Sim é verdade, a mais simples e pura verdade.

Tanto que alguns móveis quando muito simples, possuem a mesma lógica construtiva e estética dos coloniais brasileiros (todos praticamente baixo medievais, no caso), que são um estilo muito específico também - frequentemente ligados aqui, ao rural, naturalmente. Diria que são idênticos, por exemplo, mesas com gavetas simples e seus encaixes de cavilhas e ornamentos, puxadores.

Dessa forma, no interior da Inglaterra,havia estas casinhas lindas e bem cuidadas com o amor da vovó, enquanto no novo mundo, uma realidade um pouco diferente e bem menos aconchegante, que foi melhorada pelas mulheres estadunidenses da época (que se não me engano, nem era ainda EUA).

Na Inglaterra, nestes períodos, o estilo foi sustentado por varias gerações numa economia relativamente abastada e bem resolvida para quem vivia no campo no século XIV. E nos quase EUA, ainda recebendo imigrantes ingleses e com um sem número de colonos também abastados, coexistindo com colonos mais simples, a harmonia de estilos e cultura se desenrolou, configurando um padrão muito marcante e revisitado, divulgado pelo cinema.

Por isso, pode ser dificil para nós, recortar o que é exatamente cottage/country, já que o mesmo estilo pode se apresentar com vários sabores.

Naturalmente, o country está mais associado a um velho oeste rústico, como no Brasil a cultura do gado pantaneiro, café, o interior de São Paulo, MT, MS, Goiás, e um tanto de Paraná e Minas. Mas o estilo total, com as estampas florais ou em xadrez, evocam cenários de uma mesma época. O country americano

não é definitivamente tão distante do brasileiro. A estética das festas juninas, demonstram isso.

Desejo de ser clássico e puritano


Voltando ao fofo: um ponto marcante que diferencia o caipira brasileiro do country americano/inglês, é o uso da pintura de móveis e casas com tinta branca ou colorida a base de óleo, por aqui, com uma contrastante preferência pelo veio de madeiras nobres e vernizes, por lá. A partir desse hábito e do desgaste do dia a dia, da limpeza, intempéries, atritos, que fazem com que a madeira surja por baixo da tinta, as vezes com varias camadas de cores (porque brasileiro gosta de mudar a cor das coisas sazonalmente...), surge aquele charme aconchegante da coisa que está lá faz tempo porque deu certo e todos amam. Afinal de contas ninguém fica muito tempo com objetos que não gosta não é mesmo? Esse é um dos charmes implícitos que a pátina sugere, além de durabilidade e a própria variação de cores, que ajudam a esculpir visualmente dando vida aos relevos neo classicos.

As cores leves e a paleta pastel, que costuma ser associada a bebês, é também uma paleta que harmoniza com o puritanismo.

Importantíssimo destacar que as paletas claras e elementos naturalistas do cottage americano, tem nome e justificativa. Categorizados de "Cottagecore" ou "farmcore" ou "countrycore", é um estilo romantizado inspirado por uma interpretação eurocêntrica da vida na fazenda, com sua própria versão hippie para a época: auto suficiencia, paz, suavidade e tranquilidade. Além disso, ao invés de estética hippie religiosa oriental, temos o puritanismo e/ou protestantismo como diretriz ética e emocional. Que inclusive, persegue a idéia de conforto do country light inglês.

E apesar de o mundo clássico greco-romano ser originalmente pagão, a estética branca e comportada tem um quê de Common Law. Até porque o protestantismo, mesmo discordando, deve apoiar a lei dos homens. Então nesse sentido a estética jurídica clássica branca, romana, da instituição, da civilização, também atinge a realidade no countryside. Mas não nos enganemos. É importante citar que o branco clássico é uma construção do imaginário contemporâneo, pois evidencias arqueológicas apontam para cores gritantes nos templos do período, no mundo todo.


E as heranças históricas cabem no design geral


Não é surpreendente ver móveis de origem nobre de outros países europeus continentais ou ingleses no countryside americano. Até porque uma enorme parcela deles é de origem alemã. O cottage é o período que aceita essas heranças trazidas em navios, que são depois levadas para o oeste via carroções a cavalo, e mais tarde por trens. É possível, aceitável e coerente peças por exemplo barrocas ou provençais, ainda que não seja muito comum. Porém o período permite. Logicamente, porque num contexto cronológico, trocas comerciais aconteciam entre países e fabricantes de móveis e consumidores.

Mas obviamente, manter tudo numa paleta cromática e um móvel estrangeiro em harmonia, é uma decisão que deve ser corajosa e firme. Na dúvida, pinte de branco e tire o folheado a ouro! A não ser que seja apenas uma pitada de cottage, ou ecletismo, ou um romantismo superficial, aquela pitadinha, sem radicalismo.


E o country far west?


No final das contas, verbetes de uso corrente, este estilo está associado a elementos mais masculinos e brutos, da vida na fazenda, enquanto o cottage é mais feminino ou infantil e delicado. A denominação "country" ou "farwest" é um tanto quanto informal, porém é como a entendemos no dia a dia, masculina.

Usualmente estão associados a elementos como pubs, bilhares, bares, estábulos, comitivas, ao Far west (Velho Oeste), com um maravilhoso Ennio Morricone tocando ao fudo, ou até mesmo com um blues.

Estes contextos estéticos diversos são todos do mesmo período, tendo porém características emocionais extremamente distintas.


E os puxadores concha?


Uma pesquisa realizada com uma profundidade um pouco maior, utilizando as palavras "meuble de style provençal", com ou sem a palavra "blanc" demonstrará que não existiam puxadores concha, ou pelo menos, não encontrei registro, e portanto no mínimo, não eram regra. Eram puxadores tipo alça ou argola.

Tenho visto centenas de posts na internet de puxadores concha e cozinhas azuis e brancas, com molduras almofadas e outros desenhos, com descrição "provençal". É importante entendermos que o nome no coloquial brasileiro, sem base sólida em termos estéticos e históricos, para esta enorme ampla gama de elementos entre neo classicos, cottage, georgianos, versaillianos, provençais, e mais alguns outros, é com grande frequência "provençal". Esta é uma denominação popular e imprecisa, mas de uso corrente, e portanto, termo de vocabulário efetivamente implantado. Mas nós não somos todo mundo! Principalmente se você leu até aqui, o que eu escrevi até aqui!


O provençal é francês, e o puxador concha é inglês e americano. Portanto, é correto enquadrá-los no cottage ou country, ou até mesmo no neo classico que abrange uma gama enorme de sub-estilos, como este.






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